domingo, 6 de novembro de 2011

Noturno

I
Vesti com a madrugada
esta camisa de lamúrios
uma lua em fogo fátuo
enamorada de estrelas

Adornei a felicidade com álcool
e injetei nos olhos sonâmbulos das noites mortas
a força adolescente dos meus trinta anos
de memórias e planetas

Levo entre dentes
um blues vagante e solitário
e um choro bem chorado
no bolso do meu jeans

Quando eu atravessar a porta
a felicidade será meu território conquistado
minha hipoteca resgatada com cerveja
quando eu atravessar a porta

Até lá
sou apenas a sombra
mortal e cheia de gazes
de um demônio que me habita

II
Em silêncio e sombra
vem o terror das cavalarias noturnas
anunciar o tempo que bate à minha porta
30 anos!
e os sonhos são um barco sem futuro
construindo nuvens nas minhas veias

Nasci com sonhos de titãs
num tempo de carnavais anêmicos
e foliões desconhecidos do sol
nasci num mundo de roedores de cimento
catadores das migalhas que caem
no banquete dos poderosos

Passou o tempo das grandes revoluções
do poeta capaz de espetar estrelas
do malandro romântico entre navalhas e pandeiros
abatido nas coxas
da mulher em carne viva

Passou o tempo do homem irmão da terra
amante das estações e das miudezas
perdido entre o canto do galo
e a embriaguês do seu canto de guerra


III
Que vale a minha camisa
de olhos vesgos pregados na nuca?
o passado nunca foi um eldourado
e o futuro precisa de músculos e tendões
para amanhecer violento com o estrondo de mil carnavais

(O tempo é casa flutuante ancorada na memória
aconchega o éden que perdi nalgum lugar
na casa dos avós dos meus avós
ou perdi num futuro que
com um punhado de homens que ainda sabem sonhar
construiremos sobre as ruinas da nasdaq)

As mãos da história
não tem os meus miolos
bordados nas asas de um corvo
sobra no peito o sangue
e a fúria dos elementos
com eles
pretendi construir meu canto

IV
Talvez não seja um canto
o que construo com palavras e sonhos acima do kilomanjaro
talvez um cristo endiabrado
me ofereceu uns copos
e numa orgia acima das nuvens
esporrei na cara de um anjo

Talvez esteja sobrando
no computador de um deus
palavras e códigos binários
com 0 e 1 constrói a cachaça
que tomo cada sexta-feira
e os versos que gozei em meu quarto
até cair
engasgado com as palavras

domingo, 30 de outubro de 2011

De Volta

To reativando o blog. Agora para postar poemas e quem sabe (se eu tiver saco rsrsrs) discutir arte e literatura. Mas por enquanto é só pra postar poemas mesmo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

DIÁRIO DE VIAGEM (Salvador)

"Nas sacadas e sobrados da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas do tempo do imperador..."

Ainda existem alguns sobrados e sacadas em salvador, para que saibam, os turistas e habitantes mais novos, o que é um sobrado e uma sacada. cheguei de carro e seguia distraído no banco de trás. sempre tenho a impressão de que a cidade quer me engolir. ela hoje é um gigantesco emaranhado de avenidas e grandes construções. entramos numa rua um pouco mais estreita e lá estava! no meio da angústia de linhas e mais linhas retas, uma pequena sacada... foi aí que percebi, dos tempos de Caymmi pra cá, na bela são salvador, caíram muitos sobrados...

Contra-Corrente

De longe que me vem esse dia, desandado ladeira adentro. e é tudo asim pelo avesso? tudo longe de ser já sendo? e aqui nessas misturas pelas veias da gente corre muito sangue e é tudo confusão e flagelo. mas não atravesso lado, que o corpo ainda é assim débil, ainda tem as marcas do tempo e as costas listradas. e um dia, desassossega novo outro vez? ou sossega assim a miúdo revivendo água parada?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

DIÁRIO DE VIAGEM (Desembarque em Feira de Santana)

Feira é sempre a mesma cidade. eu morei aqui por uns três anos e agora, dois anos depois, tudo continua igual, exceto pelo atacadão dos presentes construido do lado da casa dos meus pais. a noite está nublada, fria, a rodoviária me espera como espera os seus imigrantes, mas estou só de passagem... no caminho, dentro do táxi, vejo as mesmas pessoas de sempre, arquétipos, mais que pessoas. quero logo chegar em casa e ver um rosto que me diga algo...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

DIÁRIO DE VIAGEM (O Embarque)

"Estou aqui em nome da tristeza
Trago a certeza de que o amor morreu"

É hora do embarque. o amor morreu ontem, mas eu não posso ficar para o seu enterro. daqui pra frente o que me espera? novos amores, pessoas novas, novas paisagens? mas não são sempre as mesmas as paisagens e as gentes? e o que muda? talvez o cheiro...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Rotação

Pode ser que terra seja mesmo redonda, mas mundo num roda, num gira nem sai do canto, toda água é parada daqui donde eu me banho, corrente só é ferro de arrastá boi e gente, da volta que eu dou é o mesmo passo pisando nas terras e todo minino que cresce é assim que nem mato que enverdece e seca, é ilusão é? isso de que tudo tem vontade? da aparencia dessas coisas? do cabimento desse mundo? é a gente que roda dentro da gente é? sem vê que o mundo num tem perna e que nem a gente tem perna que alcance o mundo? eu de mim sou só issozinho mesmo que num se mexe nem nada, nesse mundo que num vai nem fica nesse céu todo parado.